As aprendizagens da política

 

A história (des)continua. A ambiguidade é proposital. Não se festeja concepções de mundo homogêneas, nem tampouco preconceitos culturais. As quebras e as trocas circulam pelos tempos. Tivemos a última votação da campanha para presidente. Não nada foi  fácil, pois a tensão não se retirou, recusou descanso. As idealizações trazem certo desespero e as análises ficam muitas vezes na superfície. Alguns confundem reflexão com ressentimento. Funda-se um terreno fértil para o jogo de uma mídia que sacudia emoções e astúcias avassaladoras.

A sofisticação é constante. Há tecnologias para montar estratégias e reverter expectativas. Não é novidade que a notícia faça parte do espetáculo, provoque julgamentos e dissidências. A multiplicidade não cessa e influencia na concepção de verdade. Instituições buscam credibilidades, mas também se interessam com resultados que podem comprometer seus lucros. A neutralidade é apenas um argumento que não convence os mais ingênuos. A política exige responsabilidade e não a organização de baile de fantasias.

A globalização abriu espaços para se conhecer experiências antes esquisitas. As culturas se aproximam e se estranham. Tudo numa velocidade que assanha raciocínios. As redes sociais agitam-se e viram vitrines. Há quem use bem seus mecanismos e se sinta o rei das curtições. Muita simulação, porém Narciso está presente com saliência ou escondendo intenções. Não se pode esquecer o movimento da grana. As instabilidades das bolsas de valores, as subidas e descidas do dólar, incorporam-se aos comentários de especialistas.

A eleição e a política não fogem do espetáculo. É preciso brilho. Surgem profissões e mágicos na compreensão das conjunturas. Os candidatos não querem perder e estão acompanhados de seguidores e de fanatismos frequentes. Cada um com suas cores, os simbolismos se estendem, o antigo e o moderno permutam memórias. O conceito de democracia sofre ataques delirantes. Tudo numa atmosfera de complexidade que se agudiza e preenche vazios afetivos. Será que há sedução pela política, pelo coletivo ou vale a concorrência para montar a máquina do poder?

A vitória de Dilma se deu numa divisão de votos apertada. As expectativas se envolviam com os prognósticos dos institutos de pesquisas. O sistema eleitoral está distante daquela época das chapas distribuídas para firmar prestígios e assegurar a hegemonia dos partidos. A velocidade é o mote e a agonia. Os inesperados das disputas não disfarçam que as arrogâncias e os preconceitos mantêm lugares. A história é movimento, contudo mudanças e permanência a conduzem. Difícil é decifrar a força da permanência, até onde a mudança vai expressar solidariedade.

Os incômodos não possuem data marcada para fechar suas portas. Há polêmicas que estão vivas, há diferenças que ampliam ruídos, há cinismos que ignoram qualquer pedaço de ética. Espera-se que o diálogo não se iniba e exercite dignidades esquecidas. Não custa lutar para que as desigualdades diminuam e a aridez dos insultos se debilite. Para se governar, numa sociedade tensa, a articulação é fundamental.   Não  há negar que é um desafio abraçar as necessidades urgentes. Muitos  celebram o valor dos objetos e a ambição de consumi-los, confundem mercados com valores sociais.

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2 Comments »

 
  • Éricon Barbosa disse:

    É um texto reconfortante em meio a um ambiente confuso (quanto aos sentimentos dos eleitores) das eleições. O discurso de ódio aos nordestinos vem ganhando força após a eleição de Dilma.Esse texto nos ajuda a compreender a situação com um olhar mais brando, é tranquilizador.

  • Éricon

    Os ressentimentos atiçam conflitos. Temos que refletir com cuidado. Grato
    abs
    antonio

 

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