O eu e as curvas da vida: Freud e Nietzsche

 

Observo um movimento geral, globalizado, assimétrico. Procuro localizar-me, saber em que território piso, mas tenho dificuldade.  Traço referências, não adapto a novidades vazias, nem me deslumbro com as vitrines descartáveis. Um olhar no passado ajuda a conhecer os tempos. As uniformidades não existem. Há sempre debates, devaneios, desencontros.  A cultura constrói aprendizagens constantes. Resta verificar que as idas e vindas fazem parte da história. O futuro ainda vem por aí e não nega as surpresas. Surgem abismos inesperados, desmancham-se afetos que pareciam consolidados. Os suspenses se aliam com os sustos. Por isso que as religiões se sustentam no elogio ao eterno e pregam a culpa e o perdão.

A inquietações modificam o cotidiano. Freud procurou desvendar certos mistérios. Fez uma leitura de comportamentos, ouviu dores e desesperos, caiu em pessimismos e suspeitou da felicidade. Tudo passa rápido, destruindo lembranças, confundindo passado com presente. Existem prazeres, a vida não é um deserto incomensurável.  Há um historiador anônimo e ativo em cada um de nós. No entanto, não  se  aprisionam  medidas que anunciem equilíbrios. Freud não deixou de afirmar a força da instabilidade e do ambíguo. Ela se espalha pelas aventuras coletivos  e perturba as buscas individuais. Portanto, não há com dispensar o malabarismo psicológico.Freud já é criticado por muitos e as terapias se multiplicam juntos com as drogarias. Tudo é um negócio que cura e adoece, com nomes diversos e estranhos.

Como se livrar das perplexidades? Nietzsche lançou suspeitas sobre os valores do ocidente, mostrou paradoxos, foi chamado de louco. Denunciou hipocrisias, disfarces, generosidade religiosas com ambições escondidas. No pouco tempo que teve não cessou de reler o mundo.Ressignificou palavras, debateu com ideias clássicas, trouxe reflexões valiosas sobre a dimensão da tragédia grega. Não apagou a vontade de poder, nem negou a luta. Os tempos entrelaçados ou curvos não devem se resumidos com fórmulas retas e pacíficas. O conflito está na história, os desejos nos tocam, porém a multiplicidade desconversa a possibilidade de aprofundar os diálogos. Atravesso cada época. Nunca assimilei a ideia de que a história é mudança, transformação, possui um sentido, aponta sinais de salvação. Há repetições que retomam conteúdos, são espelhos desbotados.

O mundo das mercadorias é fascinante, mas é um arquipélago de armadilhas e narcisismo. Visito a solidão, ando pelas ruas com atenção e sentindo que a pressa não permite espaço para perguntas. A velocidade do trabalho, da necessidade, do lixo, do luxo incomoda. Não sei se a história é uma síntese única, é um privilégio dos humanos. Sei que tenho desconfianças, navego nos sonhos e me aqueço nos acasos. Inquieto-me com os mistérios. A inquietação tem seus pontos de fuga. Nietzsche e Freud tinham suas agonias e buscavam respostas. Nem todos se sossegam e adormecem. As insônias se estendem nas conversas com os travesseiros. O indefinível ponto de partida é um alerta. Quem nos olha e se diverte? Quem nem percebe para que servem as questões?

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