As frustrações, as releituras, o mundo solto

As expectativas produzem ansiedades. Aceleram a adrenalina. Exigem rituais. Um jogo da seleção brasileira de futebol é um acontecimento. Há desgastes provocados pelos fracassos e dissonâncias da época de Dunga. Muito estrelismo e excesso de noticiário causam desequilíbrios. O futebol possui seu lugar especial, sintetizando ambições e acostumes. O Brasil está metido noutra aventura. Começou mal, acompanhando sua rival Argentina. Gosto que passem, uns dias, para sentir como a atmosfera se transforma, depois de lamúrias exageradas e extensas. Faz parte do negócio, diriam alguns. Prefiro afirmar que o mercado da bola atordoa os jovens, perturba as manchetes da imprensa.

Veja o que Robinho aprontou anos atrás. Cantado em prosa e verso, parecia uma craque de valor inestimável. Muitas firulas, brincadeiras, estágios na Europa. Segurou-se. Não perdeu a badalação, mas o talento desapareceu ou fragilizou-se. Nunca mais pedalou com eficácia. Nem sei a razão da sua permanência como titular. Reclama muito, tornou-se uma liderança vazia. Infelizmente, não se toca de que não consegue retomar os bons tempos. Domingo passado, foi um fiasco e saiu inconformado com as críticas. As fofocas rolam, porém algo deve transformar as concepções de Mano. A corda é bamba, sempre que as frustrações aumentam ou se consolidam.

Pois é. Esse é um lado da questão. Bola para frente que muita vive navegando nas artimanhas do futebol. A sociedade move-se, também, noutros sentidos. Não se congela com os chutes errados de Neymar, nem com as reclamações das torcidas. Tudo dia os deslocamentos são grandes, não dá para fechar a porta do mundo. Tivemos, recentemente, o falecimento de Itamar Franco, ex-presidente, que trouxe pronunciamentos e discursos variados. Lembranças do Plano Real e da sua coragem cívica foram exaltadas. Nada de críticas, apenas recordações de exemplos dignificantes. Assim, se comportam os políticos, nos momentos em que certos  limites se constituem. Mais na frente, virão as análises e a memória ganhará outras cores.

Dois exemplos interessantes de como a sociedade lida com seus ídolos ou seus fatos, ditos extraordinários, que fogem da repetição do cotidiano. As cegueiras não existem sem as luzes, nem os ruídos, sem os silêncios. Não precisa levantar a voz e proclamar o fim do cinismo. O tempo constrói alternativas. As relações de poder se reorganizam, daí as reviravoltas. Surgem detalhes, desacertos e a conversa muda de tom. Passamos do tango ao samba, da seriedade à ironia mais vulgar. Só os desatentos não observam que a ambiguidade tem cadeira fixa na plateia e que o esquecimento é forma, também, de estabelecer estratégias para o futuro.

As andanças da história permitem que os indivíduos redefinam suas escolhas. Sem elas, a cultura estaria sepultada. Teríamos voltado ao paraíso, sem possibilidades de pecados. A mesmice seria soberana. São as sinuosidades e os escorregões que acordam. Não se trata de misturar palavras, nem gastar reflexões. O problema é que a velocidade nos transtorna. Elegemos mitos e enquadramos o herói. Pensamos que a política se encena, apenas, no Congresso Nacional e que o futebol é admirável e espetacular. Quem fica na primeira leitura olha a superfície.

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2 Comments »

 
  • Gleidson Lins disse:

    O que se vê em relação à seleção brasileira e seus jogadores é um excesso de valorização. Melhor, um alardeamento ilusório prévio. A nossa galinha cacareja muito mais que põe ovos. A imprensa cria ícones estelares que sequer jogaram duas ou três vezes usando a camisa amarela. E quando vem a decepção, não tem nenhum pudor em execrá-los e substitui-los por novas promessas. É disso que o futebol brasileiro tem vivido nos últimos anos, de promessas: Kaká, os Ronaldos, Adriano e Robinho em 2006; os esquemas transversais de Dunga em 2010; e agora Neymar e Paulo Henrique Ganso. Mas essas promessas do Santos não jogam sozinhas e mais: temos um técnico que parece ser limitado, de frases bonitas, mas sem eficiência prática. Atualmente, o futebol de nossa seleção está atrás do praticado por Espanha, Alemanha ou Holanda. Enquanto a seleção brasileira continuar sendo tratada apenas como um negócio, o que veremos será propaganda enganosa e promessas.

    Abs,
    Gleidson Lins

  • Gleidson

    Muita grana no pedaço tira a motivação. Há também pouca maturidade no elenco. Mas é preciso ir adiante e fugir do lugar comum.
    abs
    antonio paulo

 

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