As utopias inquietam a história

 

Não existem ordens absolutas. Há sempre espaços de rebeldia que podem representar a ação de minorias ou mesmo descontentamentos mais amplos. Uma sociedade fascista impõe regras e usa de violência. Mas os fascismos sofreram derrotas, embora sobrevivam práticas e partidos que, ainda, exaltem o autoritarismo e neguem qualquer de forma de liberdade. Não há como ter uma visão homogênea da história. As frustrações e os descontroles estão presentes. Há quem faça da propriedade privada uma altar de princípios, enquanto outros afirmam a necessidade de socializar as conquistas culturais.

A complexidade existe e as diferenças se espalham. Somos seres que não conseguiram construir um mundo de igualdades e proximidades afetivas contínuas. Convivemos com surpresas, conflitos, armadilhas, desamparos. Tudo isso torna a história um fazer que traz inquietudes. Diante de tantas dificuldades há ainda como sonhar, imaginar transcendências, desejar reformulações. A existência dos sonhos estimula utopias. Por que não pensar que as relações sociais não são estáticas e merecem um olhar crítico permanente?

A política é uma invenção social. Possui uma história, com valores e comportamentos que mostram tensões. Nem sempre, o diálogo desmancha conflitos. Há repressões que atuam com a permissão do Estado. As chamadas ordens superiores pressionam com coerções e discursos com pedagogias sofisticadas. A luta política está na história, não se afasta dela e o poder se articula com o saber para firmar seus projetos. O movimento da história recebe suas descontinuidades e suas desconfianças.

Quando o confronto se acirra a instabilidade sacode fora verdades, coloca em questão as hipocrisias, os boatos se transformam em notícias que circulam intensamente. A turbulência assanha manipulações, remonta as escolhas, não deixa de formular justificativas. Quem opta pela agressão se enche de argumentos, apela para a soberania das leis. O choque dilui  certezas e costura ameaças. O silêncio pode significar a perda da autonomia.

As derrotas ou as decepções são sempre relativas. Se não vivemos o reino do absoluto, as denúncias não param, nem tampouco a apatia assume sentimento geral.Pensar diferente, duvidar de tradições de mando, é fundamental para que a política não seja espelho dos olhares privados. As utopias caminham pela história. Dizem das insatisfações. Marx analisou as injustiças do capitalismo, Nietzsche descosturou os valores da suas época, Rousseau procurou reformular a  ética do seu tempo, Marcuse preocupou-se com os desatinos da sociedade industrial…

Os exemplos são muitos. Não  existe uma unidade, mas um desejo de que o sonho não seja controlado. A sociedade atual consume tecnologias e curte seus feitiços. Apaixonar-se por celulares descartáveis é rotina numa sociedade que dirige, muitas vezes, seus afetos para as mercadorias. Não observam o passado, passam a celebras as urgências, Se a lógica da acumulação não é questionada, as minorias exercem controles que se globalizam. A história sem o fogo da ousadia é monótona, engessa a reflexão e a pergunta.

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