Contar a História, contar as histórias

As palavras são dançarinas.Não se aquietam, detestam as imobilidades. Vivem de pareceria com os poetas, amargam descontroles quando se limitam aos textos burocráticos. Não é simples. Escrevemos, estabelecemos códigos para os diálogos, desenhamos culturas que se espalham. Temos que contar histórias ou existe uma única História programada pelos poderes divinos? Nada disso seria justificado se as palavras estivessem sepultadas, as reflexões anuladas.

Imaginar que a História seja linear, guardada numa mente tenebrosa, talvez nos provoque uma agonia Se inventamos a cultura, superamos impasses e esticamos a criação. Não devemos consagrar a homogeneidade.. As culturas atiçam o desejo, multiplicam a vontade de se fazer mundos inacabáveis. Somos também dançarinos, desafiamos monotonias, não nos fixamos numa construção retilínea. Tecemos histórias, estamos além do lugar comum, avistamos estrelas e horizontes acolhedores.

Narra e viver são sempre um desafio. As histórias são testemunhas de ousadias e acasos. Não é sem razão que as palavras mudam de significados e se infiltram nos sonhos e solidificam fantasias. O romancista se lança no futuro, Freud não deixou de observar as ambiguidades da sua época. Marx queria a revolução. As histórias se envolvem com palavras que surgem com modas e perplexidades, gostam de territórios infinitos, de cores e sons sempre renomeados..

Não duvide. Contar todo o acontecido é impossível. Guimarães Rosa era um dançarino audaz. Adormeço e me refaço nos seus textos. Sua sabedoria está nas histórias que desnuda. Ler é entrar num universo incansável. Conte as suas histórias ligadas as suas aventuras coletivas . Não é necessário ser acadêmico, impor regras, se restringir ao mínimo. Adão e Eva largaram o paraíso. Nada de escrever a mesmice, nada de empobrecer as relações.. A surpresa desfaz a mesquinhez e não se intimida. Muito sossego endurece a imaginação.

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