Freud: memórias,lembranças,esquecimentos

Lembro-me de tanta coisa que seria impossível nomeá-las. Tenho recordações preciosas que alimentam minha vontade de viver. Há época em que o riso é solto, tudo corre para o mar, sem constrangimentos. Mas não esqueçamos dos infortúnios. Nos momentos mais eufóricos aparecem, às vezes, descontroles. Não dá construir a vida sem contradições. O erro não sossega. Pensamos que temos forças consagradoras, porem escorregamos na primeira esquina. As tristezas não se esconderam e as distopias arrastam sonhos. Os ruídos da melancolia fazem com que as farmácias estejam cheias de trajas pretas e psicanálise continue buscando saídas.

Freud foi um observador minucioso. Percebeu o poder do reino das fantasias e os desajustes que nos assaltam. As tragédias gregas já nos alertavam para as incompletudes. A cultura ganha complexidade. Muita tecnologia, saberes, academias, conquistas. O mundo se enche de multidões, ousadias, refugiados, combates, devaneios. O equilíbrio é instável e quase não existe. Somos animais sociais, não estamos livre das aventuras que comprometem a saúde, com violência ferozes. Os espelhos quebrados mostram o desespero que, inesperadamente. assalta o cotidiano. Não simulemos um mundo de harmonias, nem permanências fixas. A gangorra está sempre montada.

As memórias nos acompanham. Sacodem poeiras. Quantos atos falhos cometemos? E o desejo montando arrependimentos? Lembrar e esquecer. Sem o passado e a reconstrução constante do passado, o que seríamos? Nem Freud gostaria de aprofundar essa questão? A história é sempre um releitura. A memória é inquieta, não adianta congelá-la, nem sufocá-la com teorias. O conhecimento traz também angústia e nunca esgota as idas e vindas do mundo. Sei que as distopias se espalham e a sociedade chora a mesquinhez de governantes. Não me esqueço da década de 1960, nem dos absurdos de Stalin, Hitler e cia. Nada é linear. As curvas possuem desenhos estranhos.

O diálogo com a memória é obrigatório. O presente nos impõe regras. Elas surgem repentinamente? Quantas coisas foram ditas por Rousseu, Locke, Équilo, Platão, pelos poetas das feiras que estão guardadas na subjetividades? A história se balança entre a arte e a ciência. A verdade atrai, a beleza seduz. Temos muitas escolhas, pois a vida possui formas, cores, dissonâncias, histerias. As palavras se encontram na invenção de cada dia. Compõem acasos, esclarecimentos, paradoxos. Não jogue sua gramática fora, nem fique colado nas novidades. Não se desfaça dos desafios do lembrar e do esquecer. Não somos soberanos indiscutíveis. As memórias casam-se com as histórias.

Os intelectuais desfilam pelos caminhos acadêmicos. Não são senhores das metodologias absolutas. Sofrem também tropeços, santificam-se, arquitetam alianças. Freud visitou ordens familiares, desfez tradições, reconheceu seus limites. Há muito de religião na ciência, de modas descartáveis. Ser crítico é importante, para evitar o fanatismo. O perigo é sempre se envolver com as verdades e considerá-las inatacáveis. Quem as ensina, quem as escreve, que as divulga possuem seus desenganos. As arrogâncias testemunham inseguranças. Os deuses humanos estão no mundo. Transformá-los na porta de saída do labirinto é mistificá-los. Consulte sua memória. Freud tinha vaidades que o confundia. E nós? Somos companheiros de mistérios soltos e traiçoeiros.

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2 Comments »

 
  • Jair Santana disse:

    Antônio Paulo, me reencontrar com o seu pensamento é estimulante, porque você não pretende ter as respostas, mas socraticamente sempre nos faz perguntas, que mantém nossas mentes acesas. Obrigado!

  • Jair

    Muito grato.
    abs
    antonio

 

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