Galeano: as lamentações de escritos corajosos
Eduardo Galeano foi um combatente de rara lucidez Seus livros deixaram lições contra a violência e o desgoverno. Não perdeu a beleza nas suas acusações e narrativas. Queria um outro mundo, conhecia o avesso, festejava o abraço. Acabei de ler Vagamundo. Um de seus primeiros escritos publicados. Galeano mostra a amargura de uma sociedade tensa, a miséria de não poder amar. As denúncia são fundamentais. Quem se omite é o pressor da esperança. Mesmo que a fragilidade se espalhe, quando se cai no abismo, as relações precisam de gritos de alertas poderosos para findar o pesadelo. Tudo parece perdido, mas a vida está solta, temos tempo e movimento para buscar sossegos. A desistência é cultura materializada e mecânica..
O ano de 2017 traz tragédias constantes. Dá sequência a saga do capitalismo. Os egoísmos não se intimidam, nem a pobreza se esconde. As prisões se multiplicam, as imagens de horrores atemorizam. Há retornos de epidemias, a ciência não despreza o pragmatismo, as loucuras ocupam as prateleiras das farmácias. É o mundo da drogas. Não só daquelas que derrubam sociabilidades, porém daquelas que reforçam o desmantelo, espalham o consumo. Qual a saída para quem visitar, cotidianamente, os shoppings centers e assistir aos episódios do Big Brother delirando? A carga é grande e a dor de cabeça quebra a reflexão. Flexibilize o susto.
O mundo gira. Seus movimentos abandonaram os desejos revolucionários. Busca-se o mesmo, a idiotice tem um charme esquisito e os celulares não cessam de mudar de cores e aplicativos. Quem se infiltra no seu narcisismo, nem se lembra que existem Galeano, Rousseau, Mia Couto, Cartola, Freud, Chico… Prefere se deitar em berços esplêndidos e se banhar com as espertezas. Joga a vida para fora de qualquer compromisso. Alia-se com uma destruição covarde que pune quem rouba um pão e inocenta quem seca o dinheiro público. As redes sociais realizam trocas interessantes. Despertam lutas. Não esqueçam também que colaboram para uma mediocridade doentia. Não devemos, contudo, condená-las. Há tantas vitrines enlouquecidas. Firmar um alvo único não é espelho para ninguém.
Se as mentiras exigem espaços e as verdades criam apocalipses, estamos parados no meio do caminho. Não há volta e o futuro se balança com as incertezas. Armar o inventário do que foi perdido, talvez, seja inútil. O sorriso ainda pode ser encontrado,a conversa não morreu. Olhar as profundidades obscuras não é pecado. Pior é vesti-se com as apatias, trancar as portas do quarto para preservar a angústia. O mundo de hoje não é tão diferente de outros mundo que já existiram. Os escritos de Galeano fazem companhia aos de Guimarães, Auster, Pamuk, Agualusa. As trilhas caminhadas possuem múltiplos desenhos. Inventar não é fantasia. Entenda que o cansaço é humano e a ousadia merece o colo da memória.
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