Mobilidades, desmantelos urbanos, tensões sociais

Ninguém gosta de repetir o que fere e desmonta alegrias. Há a busca de uma vida sossegada que não é incomum. A sociedade, contudo, agita-se, a intensidade dos negócios exige velocidades. Criam-se inúmeras frustrações. Os políticos debatem saídas, mas o que prevalece é o privilégio. A ética sofre abalos constantes. As disputas de cargos procuram adivinhar futuros. Antes até se falava em compromissos, muitos apostavam nas responsabilidades, a cidade tinha cuidados especiais. Hoje, a confusão não cessa. Muita propaganda, discursos fantasmas, visitas festivas, assinaturas de ordem de serviços e não se vê mudanças que tragam renovação e encontros. O pacto social se enfraquece.

A violência anda solta, ocupa recantos inesperados. Os jornais não perdem tempo. Há manchetes assustadoras. Tudo indica que visam interesses. A convivência com o crime banaliza-se. Crianças são assassinadas, a pedofilia se espalha, volta-se a especular sobre o destino do célebre PC Farias. Parece um conto de fadas pelo avesso. As novidades registram formas de enganar os outros ou de desprezo por aqueles que se desfazem na miséria. A morte caminha como habitante das metrópoles nos mais estranhos cenários. A indiferença surpreende, pois a agressividade não cede.

Um irmão brinca com uma arma que termina trazendo um drama familiar. A sociedade norte-americana precisa de não ficar, apenas, com receio de ataques terroristas. Há outras controvérsias e descontroles.  Não se leva a sério os desgastes das ambições consumistas, nem a maneira como se organiza a educação infantil. A quantidade de inovações tecnológicas tumultua a sensibilidade. Não vamos sacudi-las no lixo. Contudo, é importante observar os limites. Há jogos de  computadores que ensinam a perversão, as habilidades das guerras, a exaltação às espertezas solitárias. Quem não almeja equilíbrio num mundo que exercita a crueldade? Depois, os sustos derrubam famílias e assanham suspenses.

Querem transformar a mobilidade na cidade fabricando rodízios. É uma saída para todos? Querem incentivar passeios ciclísticos como alternativa original aos desgastes cotidianos. Vamos viver a cidade com suas perguntas insistentes. Nada mais instigante. Todos juntos conversando, renovando os olhares, exaltando estilos diferentes, atualizando as inquietações, desfrutando de outros prazeres. Não devemos esquecer, porém, que a situação do transporte público, suas ameaças aos limites do saudável. Não custa articular o coletivo, bordar, conjuntamente os ânimos. Não se precisa de esforço para sentir os desmantelos urbanos. Seria pedagógico que alguns governantes utilizassem ônibus ou mesmo andassem pelas calçadas apreciando a paisagem.

Os problemas se avolumam, porque se repetem. Há comércios de carros e motos que se concentram nos enriquecimentos. Não se analisa o que se estabelece na sociedade quando o negócio comanda os planejamentos. Naturalizam, menosprezam o vaivém da história, mantêm as vantagens das minorias. Observa-se uma pressa em resolver, em anular os espaços da reflexão, em garantir que a exploração mantenha disfarces planejados. As práticas sociais continuam  aprisionadas no sucesso imediato. O tempo tornou-se mercadoria valiosa. Ficamos amarrados no aqui e no agora. Que história merece narrativa ou a vida está sufocada pelos minutos? Estamos na era dos negócios de regras fugidias. Os anos não pesam?

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