Dezembro: as animações e os afetos fabricados

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Tudo se inventa. Há exageros na afirmação, mas há muito fogo queimando nas fantasias. Portanto, não vamos navegar em exigências. O final do ano apronta uma agitação imensa que diz das pretensões da sociedade. Dezembro passa com ansiedades e sinais de que os objetos valem muito mais do que as pessoas no território do consumo. Existem festas que se renovam, os cartões de crédito perdem qualquer vergonha, renascem modas, consagram-se tecnologias, comemoram-se amizades que disfarçam um afeto escorregadio e datado. É uma ampliação das folgas provocadoras do capitalismo, com a ajuda da necessidade de aliviar dissabores e enganar perdas. Tudo passa rápido, mas a memória conserva marcas.

A vida possui suas rotinas, cada vez mais intensas e fascinantes trazendo contrapontos e simulações. Vivemos coisas do passado, mergulhados em sensações que parecem recentes. Há descolamentos entre os tempos, uma ideia ainda persistente de que o novo está sempre se apresentando. A pressa em pensar a vida minimizar a profundidades das reflexões. Prevalece uma animação que esquece limites, que despreza a experiência. O descartável ocupa lugares, porém não sejamos racionais ao extremo. Mesmo com planejamentos ou simulações, as celebrações mostram desejos sociais, formas de estreitar convivências.

Ficar nas lamentações, denunciando os cinismos, também é uma forma de fuga. A heterogeneidade não é pequena. As culturas seguem tempos diversos. Estamos no Ocidente. Ele constrói suas singularidades que a globalização não apagou de vez. Os sentimentos não garantem testemunhos da solidariedades. Eles contribuem também para conflitos e para o refazer das sociabilidades. Seria exaustivo nomear as muitas diferenças que cercam os períodos da história. Qualquer distância é um toque de que o fluir da vida é mais confuso e mágico do que pensamos.

Dezembro tem sua pompa. Há quem o curta sem lançar dúvidas. Não perde almoços, amigos secretos, retomar alegrias enferrujadas, faz pacto com Baco e seus súditos. O mundo se levanta, pois anda em busca de aplausos, nada de firmar desesperos ou desenhar possibilidade de quedas. Podemos alertá-lo para o delírio? Será que tudo não passa de um abrir de olhos passageiro? E a capacidade de esolher, de cuidar da liberdade pretendida e nunca encontrada? Conversar com outro nunca nos chama para o sossego definitivo. Há palavras que seduzem e que contrariam. Ninguém se livra das ambiguidades, nem derruba pequenas fronteiras com cartografias estranhas, mas eficazes para garantir  as sequências da vida.

A crítica é uma dádiva para quem a exerce sem esticar os ressentimentos. O profano abraço o sagrado, o sagrado abraça o profano. As escritas e as teorias não se cansam que querer enquadrar a multiplicidade. As rotinas não se vão. A sociedade não consegue expulsá-las. Dezembro é um mês que traz rituais seculares, com a finalidade de justificar o valor do reino das mercadorias. Há quem assista a tudo com ironia e traçando mapas de perdição e agonia. As divergências afloram, porém as celebrações não vacilam. Quem se esconde, não deixa de ouvir ruídos. Não adianta balançar a bandeira branca. A festa cobra sua universalidade.

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