Não compreenda o amor

Gosto de pensar sobre o impossível. Está tudo tão confuso que não adianta buscar esclarecimentos. A justiça se contradiz, Temer telefona para Faustão, as notícias e a credibilidade estão ameaçadas. As sociedades humanas vivem lutos e lutas. Não há sossego, mas uma sucessão de guerras e violências. Nos Estados Unidos, o racismo continua e as tensões aumentam. Falamos muito de fascismo, mas é bom lembrar que as experiências agudas aconteceram na Europa. Não vamos celebrar hierarquias. A história mendiga sentidos. O acaso faz parceria com o inesperado e Cunha delira com suas manobras astuciosas. Quem acredita na salvação? Merecia uma pesquisa interminável.

Não podemos, porém, desprezar os afetos. Eles existem e garantem a respiração mínima. Não apague o sentimento, pois abrirá espaços para os suicídios permanentes. A complexidade desafia a razão, a objetividade, a ciência. As doenças surgem sem nome, misteriosas, acompanhadas pelo surto de farmácias e os medonhos exames de laboratórios. As doenças dizem muito da falta de afeto. A tristeza  se disfarça num vírus e a falta de imaginação numa dor de cabeça intensa. Mesmo com tantas idas e vindas, nada como um abraço que aconchega. Não aquele que  bate nas costas com as mãos, aminando sucessos.

E o amor será que sobrevive? A sua química é mágica e exclusiva? Nem todos sentem as possibilidades de escutar de forma diferente? Há dúvidas que não cessam.  Lembram os discursos jurídicos dos procuradores. Será? Acho que temos provas que o amor prossegue, deitado no berço inquieto da história. Não dá para esgotá-lo, pensar em explicações exatas. Aquela velha afirmação: se todos fossem iguais a você sacode apatias.  Um mundo de iguais, no sentimento, traria choques mais radicais do que as bombas atômicas. O amor sobrevive, no entanto, há uma multiplicidade de significados. Alguns sombrios,outros luminosos. Não se perdem das ambiguidades.

O amor habita no corpo. Não é uma força estranha que circula no ar. Arranha a pele, faz dos olhos espelhos encantados. Não quero consagrar , aqui, princípios, abstratos. Acho que o amor possui calor, quer contato e  que foge do lugar comum. Não asseguremos a filantropia e os cânticos dominicais como sinais de um amor puro. Retiremos os deuses dos nossos territórios. O amor não tem interrupção. Dele sempre fica um vestígio. Não há negar suas flexibilidades, seus lugares, seus tempos. Quem tem histórias de amor para contar apressa-se em aparecer.As estrelas desaparecem quando as noites se recolhem. Não gaste a sua compreensão. O enigma é quem ritma o coração.

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