Sebastião: o sal da terra e do mundo

Interpretar a história é missão que não se acaba. A complexidade se estende e as alternativas se misturam. Vivemos fortes ambiguidades que atravessam o cotidiano. Tudo muito veloz. As verdades não se sustentam. A política se encanta pelo mercado de valores. Apesar das invenções tecnológicos, as ruínas se encontram em toda parte. As indefinições cortam as expectativas, com se houvessem gritos parados no ar. No entanto, é preciso não se ausentar, buscar palavras, imagens, profecias. Abandonar a sensibilidade e a crítica é aprofundar os desacertos.

A arte nos traz visões. Provoca. Os desafios fustigam os limites e levantam questões. Nada como agitar e desfazer-se das apatias. O filme Sal da Terra, sobre o trabalho de Sebastião Salgado, nos remete ao meio do mundo. Coloca dificuldades, condena violências, mostra explorações.Há uma atmosfera de destruição que se expande e deixa as expectativas de futuro ameaçadas. Não é à toa que o pessimismo ecoa e muitos desistem e mergulhem na numa negação avassaladora. Fecha-se o olhar do sonho.

As fotografias de Sebastião, seus projetos divididos com Lélia, o fizerem superar abismos. Não apenas isso merece destaque. Nelas se firmam denúncias de opressões. Sebastião correu o mundo. viu instabilidades crescentes, não privilegiou territórios, nem fugiu dos desencantos. Envolveu solidariedades.Ressaltou as idas e vinda de histórias. Não apagou crenças, afirmou relatividades, conheceu culturas. Suas atividades foram compartilhadas. Isso aproxima, desmonta individualismos.No meio de tantos incômodos, de tantas mortes, de tantos desgovernos, ainda sobram devaneios. As perplexidades não se vão, nem os conflitos estão fulminados.

Compor a história é um desafio, mas sobretudo nunca pode ser um sinfonia de tons harmônicos e passivos. Há muitas cores. Sebastião as avivou. Há quem negue o valor das suas peregrinações. As aprendizagens estão soltas, embora as prisões autoritárias formem fronteiras. O preto e o branco sintetizam olhares, se configuram em emoções presentes com acasos devastadores.As imagens da terra registram renascimentos. Os mesquinhos continuam preparando suas armadilhas, negociando seus poderes.

Nem tudo está fixado. Há fermentos, amarguras, invenções. Quem se acomoda desconhece a possibilidade, justifica a existência da monotonia programada com espetáculos astuciosos. A arte entra no mundo, quando entende a multiplicidade, não se sufoca com os desastres. As aberturas dependem do encontro com o humano e suas contradições. Sedimentar culpas é apagar diálogos e travessuras. Lembro-me de Drummond: Sebastião que ama Lélia que amam o encanto e o mundo..

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