O autoritarismo: a globalização da hierarquia

O mundo não assistiu, ainda, a plenitude de um regime democrático. Aliás, poucos discutem política, elegem interesses pessoais para justificar escolhas e compromissos. Disfarçam éticas e não querem saber de cidadania. O constrangimento fere pactos de transparências e espalha cinismos. Não faltam exemplos, pois a competição, sem censuras, toma conta de cada pedaço da sociedade, como uma epidemia insistente. Não vamos pensar que a harmonia poderia ser permanente e a igualdade universal. Seria ótimo. As lacunas compõem a sinfonia da história e não adianta sonhar com paraísos, porém há excessos frequentes e violentos que quebram a sociabilidade mais comum. Por isso, deixar de olhar a utopia pode firmar conformismos.

Os registros devem ser feitos, acompanhando o cotidiano. Tudo acontece num ritmo que favorece ao esquecimento. Os meios de comunicação curtem a novidade. Isso enfraquece a crítica. Os cenários dos sensacionalismos obscurecem temas coletivos . A fofoca possui lugar especial, quando maioria é explorada em todo mundo. Veja o que se repete na Síria. É deprimente notar que a violência corre solta e não há como deter uma ditadura que elimina qualquer diálogo. Fala-se, constantemente, em globalização. Não existem, contudo, repartições de direitos. Os interesses pelo petróleo concentram as estratégias, mascaram as negociações. Comportamentos fascistas não se ausentaram das relações de poder.

No Brasil, as polêmicas sobre a preparação para a Copa do Mundo não se afastam do noticiário. Há os entusiasmados, achando que a sociedade vai curtir os jogos e se beneficiar com gigantesca  infra-estrutura montada para receber as seleções. A Fifa dita ordens, cumpre contratos com patrocinadores, desconhece princípios básicos de soberania. Ela incorporou os mandamentos mais sutis do capitalismo. Resiste a denúncias, junta grana e forma uma equipe com um conjunto esperto e ambicioso. Consegue congregar aliados poderosos e sabe que o futebol seduz multidões. Para que , então, acanhamentos? Bola para frente que a Nike, o cartão Visa, e tantas outras corporações animam os espetáculos e seus lucros exorbitantes.

Existe uma odisséia que desafia Ulisses. Milhares de trabalhadores estão envolvidos na construção de estádios. As condições oferecidas pelas empresas merecem repúdios constantes. Há greves, paralisações mensais, embora muitos detalhes escapem. As controvérsias tumultuam as versões. Prevalece a hierarquia. Não há diálogos. A resposta é a demissão das lideranças. A Copa exige investimentos, aceleração de cronogramas nada democráticos. Trará novos desenhos para a vida urbana, influenciará no movimentos dos aeroportos e decidirá, até mesmo, os destinos de certas políticas públicas. Um assunto que ferve e atiça grupos atuantes no mercado.

É importante lembrar tudo isso, porque o destaque dado ao cotidiano dos trabalhadores é pequeno. O clima de euforia desenvolvimentista não cessa. Lamenta-se o imobilismo do trânsito, mas não se acede um debate sobre o consumo aberto de motos e carros. Nada contra a  melhoria nos transportes individuais, contudo com andam o transporte público e as linhas de ônibus com seus horários? O autoritarismo não está presente, apenas, nas disputas partidárias. Ele se espraia, porque os dominadores menosprezam os direitos fundamentais.  A Copa do Mundo atrai quem se sente bem na vitrine da ostentação. É o que se observa.

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