O cinema: o herói, as incompletudes, as fantasias

Não se fixar na cultura atual ajuda a compreender as idas e vindas da história. Ficar preso no presente é uma cegueira que nada aprofunda. Perdemos de vista até mesmo as luzes interiores. O brilho ofusca a reflexão. Por isso, as navegações devem conviver com calmarias e turbulências. Assim, é na vida individual, como também na vida coletiva. A velocidade nos tira sabedoria. A pressa evita a contemplação e exige eficiência quantitativa. É saudável não se enganar com a lógica da acumulação. Ela mascara, penetra na fabricação de ilusões coisificadas, embriaga com os sonhos das vitrines.

Os cinemas estã repletos de aventuras. Não são imagens comuns, mas elaboradas com tecnologia de alta engenharia de produção. O espetáculo não para. A participação dos Estados Unidos na construção dessas aventuras é marcante. Lá estão Batman e o Homem Aranha como figura das justiça, extraordinário, do apocalipse. O sucesso é garantia de arrecadações milionárias, emoções seguidas de suspenses inesperados. Diverte e responde aos anseios do mundo consumo. Os heróis fazem parte das mitologias de cada época. Atravessam tempos, ganham espaços na arte, nos neuroses, nas fantasias.

Não se trata, aqui, de formular condenações, mas de estimualar comparações, de lembrar a velha e persistente incompletude que nos acompanha. Não sossegamos com os limites, porém inventamos, não respiramos, apenas, defeitos ou desânimos. Há quem deteste toda essa montagem do cinema, com truques, granas exorbitantes e histeria coletivas. O mundo da fama requer espetáculo que se internacionalizem. Observem os esportes, como as TVs se dedicam a exaltar os feitos das Olimpíadas. A sociedade não dispensa os sinais de superação, mesmo que esvaziem críticas ou rebeldias. Não estamos no paraíso. A memória do o pecado original possui cores que se alternam nas subjetividades angustiadas.

Afirmar o super-herói traz um lado contagiante da cultura. Ele representa idealizações. Significa viagens que, no cotidiano, não têm registros. A sociedade, contudo, não vive sem ousadias. O real e o imaginário balançam-se desafiando teorias. Como disse o poeta viver é conviver. Por mais que o individualimo se espalhe, as relações com outros estão atuando, compõem projetos e desejo de futuro. O cinema não foge da formação das sociabilidades. Cria hábitos e modas. Dança com o efêmero. Não se esqueça, no entanto, que as novidades disfarçam, muitas vezes, vestígios de outras épocas. É o ritmo da história, suas controvérsias maniqueístas, sua lutas permanentes, seus espelhos fabulosos.

Se a violência mora no dia a dia , ela também está nas telas. Não é só o malabarismo com sua astúcia e seus devaneios. As invenções culturais dialogam com o mundo, com o visível e o invisível, a dor e a alegria. Não há fronteiras. É preciso não desprezar as proximidades e se perguntar com as culturas se entrelaçam. Há algo que nos toca. Não é à toa que os comportamentos se parecem. Estamos no cerco, nunca no absoluto. Desenhamos heroísmos, divindades, máquinas potentes. Sobram muitas lacunas que se refazem na história e na cultura. Talvez, seja a estrada do humano, apesar das resistências.

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