Octavio Paz: os labirintos da solidão nas sustentações da vida

Octavio Paz escreveu um belo livro chamado O Labirinto da Solidão. Paz é um dos mágicos da literatura. Tem uma intimidade com as palavras, cria com facilidade e mostra cuidado com a história. Seu livro, ainda, traz debates importantes sobre o México e a modernidade. Ele apresenta suas nostalgias, mas não se desfaz das ambiguidades de um tempo que vive pleno de contradições. Há muito discurso pela ampliação da democracia que não frutifica. Sobram lamentos, desenganos, solidão. Tudo isso se espalha pela sociedade, existe de forma acentuada no século XXI. Paz tinha suas razões e suas metáforas fabulosas para meditar sobre tantos desacertos.

Sempre os sentimentos habitando a obra dos grandes autores, inventando subjetividades e consolidando estéticas. O sofrimento não foge da história, mas nem tudo virou poeira ou desespero radical. A solidão do homem moderno assanha muitas teorias. Bilhões de pessoas estão na famosa aldeia global, frequentam lugares e manifestações, sem se livrar de angústias e de frustrações. Fala-se do amor, buscam-se novas formas de afeto. As tecnologias entram nos consultórios dos psicanalistas, há remédios para minorar depressões, terapias vindas do Oriente. Não faltam andanças na procura de paraísos atualizados. No entanto, quem, já, não se sentiu só, sem conversa, desconhecendo a velocidade das transformações?

Portanto, as trilhas da solidão acompanham a existência. Lembram a necessidade de se firmarem autonomias. A velha questão das divindades não sai de cada cultura. Mudam as crenças, elas se tornam mais pragmáticas, alguns se divertem com seus exageros e outros decretam a consagração do ateísmo. As pessoas viajam nas suas fantasias. Convivem com incertezas, desconfiam das garantias institucionais, desejam rebeldias eficazes, porém entendem que o sufoco do desamparo é um tormento. As inquietudes provocam visões de abismos e de labirintos escuros. Resta respirar e redimensionar os desenhos antigos. A cultura pede astúcia e ousadia.

Definir os sentimentos ajuda. Ser só é uma condição que assusta e consola. Nem sempre, há aquele envolvimento com os ruídos. Muitas vezes, é fundamental mergulhar, sem medo da profundidade. Também se escuta o silêncio. Requer abandono e profecia. Não dá para enquadrar os sentimentos em fórmulas que se estendem pelo tempo. Os contrapontos escrevem a gramática da história. Octavio Paz é mestre em observar o vaivém do humano, suas entradas e saídas, seus olhares cansados, mas atentos. Não há como escapar da solidão, nem como apagá-las da vida. Não é toa que ela volta a se soltar pelas narrativas pós-modernas.

No mundo que acena pelo virtual, as permanências possuem seus lugares. Ligue seu computador, acione a internet e sintonize-se com o facebook. Quem sabe não está programando um encontro com a solidão? Ou é apenas uma forma de encantar o vazio e correr dos isolamentos? As sociedades não conseguem abandonar seus sonhos de redenção. Cada um segue sua trilha, incomoda-se com os desvios. Podemos ser radicais e afirmar que as aparências enganam. Talvez, estejamos misturados com as coisas do passado, sem perceber que há nostalgias incomensuráveis. As máquinas simulam e choram. Duvida?

 

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2 Comments »

 
  • DIÓGENES disse:

    Interessante observar como existem sempre autores que observam seu tempo presente, analisando-o e mostrando que de certa forma o futuro será assim mesmo,é sempre aquela questão das permanências, aproveitando uma passagem do texto que se refere ao facebook, o lugar do isolamento, lugar também de ficar preso ao computador enfim da virtualidade, daqui para frente as coisas serão assim, é mais uma das astúcias do capitalismo. Vai ficar cada vez mais difícil se desligar, quer dizer ficar offline!!!

  • Diógenes

    A relação entre mudança e permanência é presente na construção da história.O capitalismo não vive sem o invidualismo. Ele alimneta a competição.
    abs
    antonio

 

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