Os cenários da política:Dilma e Romário

Pensar a história como uma multiplicidade de cenários me atrai. Somos atores, nem sempre sabemos o texto que vamos interpretar. Há surpresas. Podem nos reservar um drama ou uma comédia, até uma sedutora aventura, com riscos e final feliz. Na sociedade atual, as imagens andam soltas, acompanham nossos caminhos ou nossas noitadas diante das TVs. Há muitos fascínios e ilusões. É difícil adivinhar até onde o reino das imagens manterá sua soberania. Continuo afirmando que as cidades são vitrines de luxo e de lixo, com a valorização do espetáculo a cada momento.

Não custa visualizar os contrastes ou costurar as polêmicas. Na gestão da política, a diversidade nos leva a reflexões contínuas. Dilma Rousseff foi eleita presidenta, como gosta de ser chamada,  e vem sendo seguida por muitas análises. Houve a fase das denúncias de corrupção que provocou respingos no seu antecessor. Estão sendo organizadas passeatas de protesto. Nada como incomodar os que se apropriam indevidamente do dinheiro público, firmar indignidades contra desvios que enfraquecem a república. A presidenta tomou providências, o Congresso Nacional pronunciou-se e a sociedade mobilizou-se. A novela, ainda, não terminou. Dilma não  apóia as propostas do PT com relação à imprensa. As opiniões provocam turbulências, os esclarecimentos ficam na corda bamba, mas ela não aceita qualquer forma de censura.

Seu discurso na Organização das Nações Unidas foi contundente. Não deixou de fortalecer seus compromissos com a democracia e o desejo de ampliá-los. Para isso, é preciso conviver com os adversários, sem se descuidar de apurar os desmantelos e observar detalhes da administração, com a ajuda da coletividade. Sua presença internacional está ganhando corpo. Não é a sombra de Lula, como a ironia de muitos proclamava. O  discurso mostrou inquietações importantes, exigiu atenção para crise econômica, dentro de um espaço de autonomia significativo. O mundo atravessa  crescentes  instabilidades. As decisões não devem ser isoladas. O descontrole financeiro é a ameaça que toca a aldeia global. Portanto, Dilma traça planos e indica onde pretende se estabelecer.

Há outros cenários interessantes. Na eleição para deputado, dúvidas foram levantadas. Existiam receios de que as figuras de grande popularidade nada fizessem e adormecessem em berço esplêndido. Elas sofriam com as perguntas dúbias e com as fofocas gerais dos meios de comunicação. Romário estava num foco incessante. Seu trabalho passava por avaliações. No desenho de qualquer descuido, a crítica se agigantava. Ele guardou serenidade e seguiu adiante. Construiu sua atuação, procurando se apresentar diante das dificuldades, sem maiores agitações. Formulou sua política, no sentido de ser respeitado como cidadão e não viver das memórias de um ídolo do futebol. Não silencia. Está de olho nas obras da Copa de 2014, não com muito entusiasmo. Levanta questões, atua com desenvoltura que surpreende. Criou um cenário, para muitos inesperados. Já chegam a apontá-lo como possível candidato à prefeitura do Rio de Janeiro. Nem tudo é para sempre. As reviravoltas casam-se com as idas e vindas de política. É importante observar os deslocamentos dos sujeitos na história, seu querer sacralizar determinações, nem julgamentos preconceituosos.

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6 Comments »

 
  • Emanoel Cunha disse:

    De fato não devemos julgar as pessoas ao percorrer de sua trajetória, mas sim observar as mudanças que o tempo a incube de lhes ensinar-lhe as transformações da vida. A instabilidade é uma de nossas marcas, raciocinamos de diferentes formas e maneiras, pois não há homogeneidade nos pensares humanos. Possuímos sentimentos. Aprende-se a conhecer o mundo através de organizações sociais em seus diversos âmbitos e ramificações, não é só, necessariamente, a partir desse ponto que damos significados a sua complexidade, mas passamos a perceber que a mesma está atrelada a política da qual estabelecemos contatos com o mundo nas diversas instâncias da construção história.

  • Emanoel

    Nem tudo se encaixa no previsto. As surpresas acontecem e mudam as perspectivas. É bom quando acrescentam boas energias.
    bom domingo
    antonio

  • Rafael Ferreira disse:

    É curioso como pessoas que, em teoria, não teriam capacidade de ser ativo nos processos políticos, como foi o caso de Romário e Tiririca, que foram tantas vezes criticados e desvalorizados, mas dos quais atualmente estão agindo muito mais do que a grande maioria desses poíticos corruptos e sem caráter. Esses governantes apresentados com seus títulos e diplomas, mas que não fazem nada, ou pior retiram do povo que os elege, enquanto pessoas símples e cuja imagem é marcada por esteriótipos são muito mais produtivas, mesmo elas chegando a ter uma condição estudantil tão baixa. Só no Brasil mesmo para acontecer algo assim.

  • Rafael

    A política surpreende, depende dos compromissos de cada um. Traz surpresas incríveis.
    abs
    antonio

  • Filipe disse:

    O pré-julgamento é sem dúvida alguma uma marca da humanidade, entretanto deve ser envolta nas questões de ordem objetivas, sem ingressar na esfera da intimidade e do pensamento de quem se está observando, isso seria impossível. Talvez, a questão mais importante, repouse nos exemplos que observamos diante de um contexto social em que a análise se inclui. De alguma forma, essa análise está influenciada dos nossos pré-julgamentos.

  • Filipe

    É difícil escapar dos preconceitos, mas é preciso que eles sejam combatidos. Eles sinalizam com injustiças e perdas na convivência social.
    abs
    antonio

 

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