Prometeu: não há descansos para os tempos das histórias

A tragédia de Prometeu não está ultrapassada. Ela tem muitos significado. Com não conseguimos definir nossas origens, as perplexidades não deixam de nos fazer companhia. Os mitos são fundamentais para esclarecer as vacilações dos ânimos. A história é uma grande ciranda. Nossa teimosia é querê-la com uma narrativa singular e única. Não é possível. Faz parte das ilusões que alimenta o desejo de seguir adiante, sem conhecer a rota do destino. Temos histórias. O que vivemos merece múltiplas interpretações, todas inesgotáveis. Os mitos retornam e os mais antigos mergulham em profundidades imensas. Não se trata de precipícios, sem luzes. A escuridão existe nunca desacompanhada de luminosidades.

Os movimentos das histórias não traduzem renovações incessantes. Assustam-se com  repetições. De repente, encontramos figuras que lembram a ousadia de Prometeu. Parece que uma teia amarra as palavras, mesmo que elas fujam e inventem outros caminhos. O desafio, porém, se infiltra por todas as épocas. Não está só. Prometeu sofria, sem se desligar das arrogâncias. Tinha compromissos com os homens, exaltava a inteligência, as virtudes do saber , da responsabilidade. É um exemplo para os gregos ou atinge os senhores da pós-modernidade?

Os ritmos das narrativas nos lançam para danças diabólicas, mas não escondem a sensibilidade de escrever as aventuras que descrevem o sagrado. A complexidades das parcerias é que entontece o narrador. Visualiza-se o sagrado, criam-se santificações, contudo os chamados espíritos do acaso não sabem o tamanho da leveza. Tudo fortalece o testemunho da luta ou dos desencontros? Prometeu se atrevia, sentia a astúcia das suas medidas. Não pactuava com deus medroso. Curtia segredos labirínticos, representava sinais de um futuro que ninguém adivinhava. Portanto, aconselhava, redefinia, desenhava profecias. Pouco se lastimava diante da dor cruel que o consumia.

Não há descanso para os tempos das histórias. As ficções ganham significados quando ensinam. Quem ainda não aprendeu com Prometeu? Quem não se entusiasma com as peripécias de Hércules? Quem fecha os olhos diante da ternura de Antígona? Vamos e voltamos com fantasias que se inquietam. Não se perde nada. Os vestígios podem anunciar ruínas descartáveis, porém a resta a curiosidade de entender o drama de conviver com o que se acaba, de se envolver com os silêncios da morte. Os mitos nos alertam para as cores dos bordados dos mantos que ora nos aquecem, que ora nos sufocam.

Quem se protege com a apatia ou pinta o uniforme corre das histórias. Mesmo que as controvérsias nos confundam há quem julgue que os territórios da vida possuem fronteiras. Prometeu tinha vontades redentoras. Pouco se incomodava com a ira de Zeus. Sabia que o poder escraviza, fabrica soberanias, aparentemente, absolutas. Uma questão marcante para quem não observa que a tragédia é uma reflexão sobre os limites. Há uma continuidade que atravessa imaginários. As teorias buscam determinar as larguras das portas por onde entram as sagacidades mais permanentes.O ir e vir nos desequilibra. Por isso, as verdades se divorciam as mentiras quando se aproximam do diálogo final. Não há escrita que encerre a incompletude.

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