Quem segura as estrelas e renova as esperanças?

Escolher o grande acontecimento de 2010 traz agitações na imprensa. As opiniões são divergentes. Os critérios mudam , de acordo com as concepções de mundo. Brilham as estrelas, as imagens da televisão e as bajulações frequentes. Não há interesse em homenagear aos que furam os esquemas da mesmice. Isso é geral. O sucesso cega e causa inveja. O garoto Neymar esnoba, com seus precoces milhões. Ganha prêmios e desfila pelas boates cercado de companheiros. Não sabe o que lhe espera, nem mede os perigos da glória instantânea.

É um exemplo. Seu futebol encanta, mas ele se perde e pouco liga para os conselhos. Até onde vai segurar tantas preciosidades, é mistério? Lula, presidente falante, entusiasma-se com seus feitos. Surpreendeu. Conseguiu uma popularidade merecida. O Brasil não está equilibrado em tudo, porém rompeu com certa amarras e promete novas conquistas. As transformações sociais deram poder aquisitivo a muitos excluídos.  Há superficialidades em certas alegrias, por isso o cuidado não deve se ausentar.

Quem sempre foi lembrado nas páginas de jornais, com amarguras e decepções? Bruno tem lugar privilegiado. O ex-goleiro do Flamengo, antes idolatrado, hoje adormece nos labirintos das prisões. Não só ele recebeu acusações e aguarda o fim de toda novela. A Igreja Católica também sofreu e viu seu véu de pureza ser manchado, por muitos dos seus sacerdotes. A pedofilia atormetou a vidas dos  padres e bagunçou com os moralismos oportunistas. Ninguém imaginaria tal transtorno décadas atrás.

Mas as rebeldias tiveram outros enfoques. Julian Assange soltou suas bombas cibernéticas. Novidades para queimar segredos escondidos pela diplomacia. Está vivendo pressões e solidariedades. Não é saudável que a hipocrisia prove venenos e mostre por onde andam os poderosos? Muita gente foi às ruas na Europa, para protestar. Um ânimo para desmontar a apatia e assegurar leis sociais importantes. O cinismo da maior parte dos políticos é avassalador. Votam seus próprios salários e não se comprometem com os desacertos.

O julgamento de cada ação daria tribunais majestosos. Julgar possui suas armadilhas. O melhor era que houvesse mais reflexão e diálogo. Uma sociedade de opiniões homogêneas esfarrapa a criatividade. No entanto, não se visualiza esforços para se discutir projetos. A vaidade veste os atos, na busca de ocupar o topo das hierarquias. As diferenças são muitas, porém o feitiço de acumular objetos invade cabeças e corações. A sutileza é, as vezes, um forma de negar o valor da coragem e da inquietação.

As palavras não se esvaziaram, mesmo que os discursos se estendam por todos os caminhos. O final de ano tem símbolos e joga com ânimos desiguais. A continuidade é um fato. A revolução nunca radicalizou como se esperava. Anunciou tempestades, amenizadas pela permanência das relações de poder. As formas definem a coisificação dos desejos.

As pesssoas correm, dispensam as contemplações e se sufocam com os abraços. As escadas possuem arquiteturas que levam aos mesmos andares. Nem percebemos. Medimos tudo pelo tamanho das luzes. Lá dentro, tateamos. Quem apostou milhões acredita que a felicidade é uma dádiva e não uma história ainda inacabada.

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4 Comments »

 
  • Telma Lúcia disse:

    Bom dia, um bom dia mesmo.

    Retrospectiva Paulo Rezende, do futebol a religião, o “adeus” do Lula, e quem sabe se ainda voltarei?
    “As pesssoas correm, dispensam as contemplações e se sufocam com os abraços” – Simplesmente magnífico!

    Que 2011 possamos nos encontrar através dos artigos que nos convida à reflexão.
    Abraço 2010
    Telma Lúcia

  • não importa disse:

    Aqui me tocou:
    “As escadas possuem arquiteturas que levam aos mesmos andares. Nem percebemos. Medimos tudo pelo tamanho das luzes. Lá dentro, tateamos. Quem apostou milhões acredita que a felicidade é uma dádiva e não uma história ainda inacabada.”

  • Pois é. Sempre lidando com aquilo que desafia e leva a outros mundos.
    abs
    antonio

  • Telma

    A trilha do encontro evita a dimensão dos labirintos. O risco é menos sofrido e a vida pode caminhar para outros acertos.
    abs e bom 2011
    antonio paulo

 

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