Sherezade e as travessias dos arcanjos encantados
O deuses podem não existir. Há quem não suporte divagar. Cada um elege suas crenças e assume seus desejos de eternidade. Sabemos que a morte está, aí, juntinha de todos. Suas formas de acontecer são múltiplas, não dispensam nem a crueldade. A vida não tem prazo definido. A sociedade produz armas e armadilhas, inventa doenças, ganha dinheiro com hospitais, arquiteta polêmicos planos de saúde. Apesar dos medos, objetividades matematizantes possuem lugar de destaque. A famosa fórmula custo/benefício entra para medir os perigos das epidemias e dos negócios na indústria farmacêutica.
Isso é um dos lados das elaborações do cotidiano. Sou partidário da força da fantasia e meu cais luminoso é a imaginação.Aconselho: deixe os deuses nas suas moradias e contemple os arcanjos. Eles são invisíveis? São ficções? Podem ser, mas você não se amarra nas excelentes ofertas das lojas e nas acrobacias do capitalismo? Onde ficam as verdades diante da tantos nós e redes remendadas? Não acha que estamos mergulhados no concreto sem nem discutirmos as amplitudes? Exercite outras lógicas. Visualize arcanjos soltos, no cosmo, em missões especiais. Aconchegue-se, mesmo que seus olhos estejam tomados pelas cores dos automóveis. Não custa curtir territórios estranhos e esticar-se sem preguiça.
Já ouvi falar, um dia, que as crianças conversam com os anjos? Elas costumam se divertir imaginando situações. Os noticiários estão cheios de feitos extraordinários e você não se delicia com a extensão das aventuras? A confusão é geral, mas não vamos afugentar as possibilidades de leveza. Na semana passada, assassinaram centenas de pessoas, discutiram as habilidades da corrupção, prepararam argumentos de defesa dúbios. A ambiguidade reina na vitrine do cinismo. O mundo convive com misérias e violências internacionalizadas.Muitas palavras para retomar assuntos inquietantes. O tempo corre buscando soluções imediatas.
Todos fazem contas dos prejuízos trazidos pela quantidade de elevadores quebrados, atrasando o vaivém das pessoas e a urgência dos negócios. Não há como esquecer o que nos ressaltaram, um dia, com uma convicção rara: time is money. Não é o momento de formular polêmicas. Voltemos aos arcanjos. Não sou ligado às religiões institucionalizadas. Acho-as, profundamente, contraditórias. Minha alegria é poder soltar a imaginação e não duvidar das sonolências da sensibilidade. Ela me convence que escrevo, porque Sherezade é um arcanjo protetor que ajuda a firmar iluminações e caminhar pelo mundo das palavras. Engana-se quem despreza a possibilidade. Os diálogos fluem, o invisível permanece.
As narrativas fundamentam sentidos. Muitas vezes, nos tiram de hesitações e tece jogos inesperados. Scherezade não se cansou de contar histórias, não se importando com as dimensões da verdade e da mentira. O importante é não inibir a imaginação, não cair em dualismos. Desenhando analogias, deixando certezas que cercam o cotidiano de monotonia, as magias quebram os relógios burocráticos. O tempo nos pertence e nos inquieta. A sociedade se complica, com tantas relações definidas, porém não existe o definitivo e o insuperável. Cada instante junta mistérios, por isso que seguimos na vida. Se tudo estivesse escrito no livro das revelações, as astúcias de Ulisses eram espelhos de desencantos e de mesmices.
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A pena nem sempre é leve, não é mesmo?! Depende da mão que a segura.
Assim como a dureza do dia a dia incomoda, por vezes a leveza roça o nariz.
Abraço.
Zélia
Está muito certa na sua sabedoria.
abs
antonio paulo
Como é bom se desligar da massacrante rotina diária, desencaixar-se do sistema, desparafusar-se da máquina. Sonhar é válido. Imaginar mundos paralelos, lugares estonteantes… Para se recarregar e voltar ao dia a dia.
Abs,
Gleidson
Gleidson
Apesar dos pessimistas, sem a fantasia a coisa fica feia. É preciso voar, pois o peso do mundo provoca contradições.
abs
antonio paulo
É realmente horrível como a pessoa humana é tratada diante da ignorância dos que estão cegos pelo lucro. As redes criminosas estendem-se além dos limites da lei. Isso quando não estão acobertados por esta. Realmente, orar aos deuses pode não ser a melhor forma de combater tais truculências, porém, ajuda a refletir sobre estas. Orar é uma forma de meditação. Claro que para lutar contra forças matérias é necessária a matéria. Deixar a justiça nas mãos dos deuses é negar a própria existência como ser atuante. É preciso separar as coisas. O equilíbrio é a fórmula perfeita para qual quer que seja a medição. Estamos num grau evolutivo em que os dogmas já não surtem os mesmos efeitos. A razão é o que nos leva a crer. E independente do credo, o importante mesmo entender que estamos no mesmo barco. E se ele virar, todos morremos afogados.
Murilo
Os sentimentos variam e devemos seguir aquilo que nos traz equilíbrio. Assim poderia ser a vida, mas muitas variáveis e desmantelos.
abs
antonio paulo