Entrelaçamentos do mundo, desconfortos do cotidiano

 

Há muitas teses sobre as travessuras do mundo contemporâneo. O crescimento magistral da população e a complexidade das metropóles são sempre lembrados. Ajudam a compreender as inquietações e as pressas do presente. As cidades estreitam contactos, mas geram problemas de difícil solução. São Paulo sofre com as chuvas, quase sem interrupções. Muita gente e falta de planejamento do poder público. A violência e a competição provocam tensões.

Há discordâncias sobre o conteúdo das travessias da vida. As polêmicas não cessam e as religiões duelam com a ciências. Existe o inato? Somos egoístas e não há jeito de mudar? Para que tanta disputa e vaidade? Céu, inferno, utopia, revoluções. Se tudo está naturalizado, desde sempre, não podemos apelar para as pedagogias. Muitos falam de índoles, outros de caráter. Portanto, estamos condenados a ver as transformações como disfarces. Parece aquela velha história do pecado original.

Os dilemas acompanham as tentativas de desfazer tradições e narrativas seculares. Falar de clareza é forçar a barra. Nada é evidente. Respira-se mistério que não nem flutua, mas cai sobre as nossas cabeças. Ele se finca no concreto, no suor do trabalho, nas conversas sinuosas dos casais. As respostas encontradas para suavizar os impactos dos desacertos, logo são colcadas na berlinda. A internacionalização das crises amedronta e aproxima.

O cerco das negociações políticas e econômicas é constante. Cenários amplos e confusos que deixam a sociedade, sem querer intimidades com o futuro. Winehouse está, por aqui, trazendo especulações variadas. Portanto, tudo se mistura, a cultura tem um caldo quente e mutante. As imagens assinalam a repetição de novelas, desencontros e simulações. As notícias têm preço e, às vezes, ocupam espaços monopolizados. Adormecer a crítica é desaparecer, numa inocência pouco estimulante.

Há muito sobre o que pensar e perplexidades soltas agitando o humor. O PMDB reclama da distribuição dos cargos, os Estados Unidos convive com descontroles sociais, as passagens de ônibus sobem, Ronaldinho consagra-se com torcida do Flamengo e teme a antes amada galera do Grêmio. Tudo toca, de alguma forma, na vida de cada um. Talvez, esse entrelaçamento contínuo seja o eixo da contemporaneidade, mesmo com toda carência de solidariedade.

O cotidiano é uma rede de pactos, sem fim. É o exercício da sociabilidade que desperta o olhar para o outro,  mesmo que as farsas das relações manipulem desejos e covardias. Quem acredita na urgência do juízo final cuida de afirmar suas orações e conservar seus acordos com as divindades. Quem joga com o absurdo, não se espanta fácil. Atravessa o dia, esperando surpresas e apontando o tamanho das ilusões. São atitudes envolvidas com hábitos culturais.

Maquiavel pontuava o individualismo. Quem almeja o poder está ligado a  interesses definidos, não esquece a objetividade. Marta chorou , quando recebeu o prêmio de melhor jogadora de futebol do mundo, pela quinta vez. Um feito que poderia trazer outras reações ou ornamentos de pedantismos vazios. A cultura borda sentimentos e nos vestimos, com palavras, para se  esticar e sossegar a respiração. Sem espectadores o show da vida não acontece, a maçã perde o gosto do pecado.

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