As Olimpíadas: o jogo, a política, o humano

Bolt, Phelps, Sheila, Marta, Argentina, Croácia, China, Estados Unidos… Tudo passa, mas não sem polêmicas e travessuras, sobretudo quando a tempestade é longa. Curto, porém, os jogos desde muito tempo. Sei que é uma época de demônios e Dráculas políticos. Muita gente envolvida com corrupções, outros destilando falta de caráter, mostrando ser mensageiros do céu. Nunca vi tanta hipocrisia. Condeno qualquer ação que desmanche a solidariedade e festeje o autoritarismo. Há fascistas que não sabem o que é ser fascista, nunca leram Freud, Arendt, Gramsci e pouco ligam para a generosidade. Gostam de navegar nos pântanos, comercializar drogas, ser companheiros dos privilegiados astuciosos.

As Olimpíadas fazem parte da cultura. Quem as inventou, na Grécia, tinha ligações com a magia. Hoje, há uma multiplicidade de esportes que nos deixa assustados. Tênis de mesa, hóquei na grama, salto em altura, futebol, ginástica, natação… Seria impossível contar os movimentos que assinalam as performances dos atletas. Portanto, a imaginação anda solta. Gritos, vaias, delírios, medalhas. Há empenho ou aventuras midiáticas espetaculares. Quando podia, estava deslumbrado com a  velocidade de Bolt e o esforço dos que ficam lá atrás, mas não desistem. Difícil simular indiferença. Para quê? Não há fantasia? Temos que nos fixarmos na melancolia e morrer com a culpa?

Não sou ingênuo. O capitalismo adora sacudir a grana em tudo. As grandes corporações lançam palavras de ordem, incentivam o consumo, dão lições de patriotismo. São as senhoras de uma sociedade carente  e dispersa. Lamento, resisto, visto-me de indignação. Não posso negar, porém, minha paixão pelos esportes. É importante, muitas vezes, levitar, observar os mitos e não celebrar a raiva e o ressentimento. A vida é um jogo, os azares iludem e como as sortes não saem do mundo. A nossa incompletude é extensa, trágica. Não esqueça de Prometeu Acorrentado.

A história mistura tanta coisa. Neymar é um dançarino, um artista. No entanto, promove farras gigantescas e não mede seus ataques de vaidade Quem não se lembra das atrocidades de Hitler? Quem não aprendeu com a poesia de Rimbaud? A sociedade morde seu próprio rabo. A quantidade de invenções que circulam nos tempos históricos é infinita. Existem cinemas, bares, escritórios, lendas, vereadores, fotografias, psicopatas… Como não se fascinar com a escrita de Kundera? Como considerar tudo perdido para sempre? O sonho se cansa. Temos pesadelos, apelamos para os divãs, chutamos as portas, procuramos heróis.

O humano é indescritível, não cabe numa página, nem tampouco assusta uma estrela. Os intelectuais e os artistas buscam sínteses que decifrem as caminhadas humanas. Há divertimentos, polêmicas, depressões. Brinco e me escondo das palavras. Conversar com os outros, desafiar os limites, jurar alegrias no facebook, tudo faz parte da vida. Se há um paraíso, não posso confirmar. O cotidiano é o soberano. A morte é saudade, a vida inquietação. A tarde está azul, voar é com os pássaros. Não devo  adormecer meus desejos. Um dia, talvez, as Olimpíadas ganhem outras cores e exterminem as armadilhas. A história não me pertence, porém olho sempre no seu espelho.

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