BBB: a vida atiçada e a curiosidade acesa

Não se esqueça que, ontem, houve um assanhamento geral nos lares nacionais. Não deixe de observar as conversas nos ônibus, nas lanchonetes ou nos shoppings. Qualquer lugar é lugar. Mais uma vez, Pedro Bial volta ao cenário da sociedade do espetáculo, com suas sapiências, para comandar o BBB. O famoso reality show, apresentado em 42 países, agita as mentes e corações brasileiros. Muitos estão concentrados nos detalhes, sacodem todos seus neurônios, viajam no cotidiano de outras pessoas. Entram na casa da Globo. Sentem-se, também, artistas e não escondem os vestígios da mediocridade. É proibido pensar, só os acadêmicos é que buscam analisar o fenômeno mundial do BB, usando teorias diversas, discutindo teses sobre o contemporâneo, colados em Freud, Deleuze, Foucault, Marx, Debord, Jurandir Freire … Será?

 A audiência é garantida, com telespectadores de diferentes idades. Os motivos de tanta atração é desafio. Quem sabe você encontre uma resposta na história de Branca de Neve ou numa reflexão azeitada de Lacan. Não dá para fechar diagnósticos. A mobilização é grande. Não culpe o nível educacional do povo brasileiro. Não invente complexos de inferioridade. Cada cultura tem seu Big Brother. Lá, na Dinamarca, existem fãs do programa, como também na Holanda. Portanto, a complexidade se entrelaça com as fantasias que percorrem subjetividades atônitas e soltas.

No Brasil, vive a décima segunda edição. Há quedas de curiosidade, mas nunca com perspectivas de ameaçar a fama que envolve seus participantes. O prêmio é milionário. Provoca invejas e especulações. A questão não se resume ao perfume da grana, nem tampouco ao desejo de transferir desejos e reparti-los com mundo. A casa do BBB tem suas magias. Nem sempre acontece o que parecia planejado. A audiência vacila, muda sua torcida, se desencanta com certos indivíduos. Afinal, há espaço para o inesperado, mesmo que os mecanismos de controle cerquem cada um. A surpresa não morreu, anda pelo mundo descompromissada.

O progama segue sequências, troca visuais, brinca com as fraquezas e as ousadias, intimida e relaxa. Ninguém que assiste às peripécias se mantém indiferente. Cada um valoriza as tramas que lhe seduzem. Há quem aprecie as pegações, o jeito tímido de alguns, as indefinições sexuais de outro, os corpos fabricados das meninas ou dos meninos mais lançados. O diálogo, com idas e vindas constantes, quase nada possui de objetivo. O mundo do inconsciente sofre abalos, descobre inimigos confusos, termina no sofá de um psicanalista. Não falta assunto, nem murmúrios e pedidos de silêncio. O espelho aumenta e diminui de acordo com os dramas assumidos.

Há as votações. Os ruídos democráticos que enchem o programa de animação. É uma competição. Choros, eliminações, arrependimentos, arrogâncias, ciúmes. Haja insônias e agonias. Comemorações ou dissidências colocadas no ar ao vivo. Sobram generosidades ou rasteiras bem aplicadas. Nuvens carregadas anunciam tempestades demolidoras que passam rápidas como suspenses. Muitos buscam exemplos em figuras, antes, desconhecidas. Paixões se movem, noites mal dormidas se esticam, ansiedades se balançam no malabarismo dos afetos inquietos. Big Brother diz  da sociedade em que se vive. É óbvio. Mas o problema é compreender o sentido do que se vive.

PS: Foram acrescentadas, desde ontem, novas sugestões de leituras e de filmes. Dê uma olhada.

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6 Comments »

 
  • Monique disse:

    O BBB é espelho de uma sociedade do espetáculo na qual reina o culto excessivo à competição.Sociedade que se perde em futilidades, cheia de vazios. Destaque do ser humano como um produto.Sentimentos humanos relevantes são desvalorizados por uma racionalidade destacadamente egoísta.
    As entrelinhas do BBB são bem maliciosas.

    Excelente texto, Antonio!
    abs

  • DIÓGENES disse:

    O BBB é um programa do jeito que boa parte da população brasileira gosta cheio de futilidades onde a poderosa Rede Globo enche-se de orgulho e entusiasmo fazendo um programa que da uma super audiência, onde enche seus cofres e aumenta a popularidade.

    Porém, o BBB de fato retrata a nossa sociedade, que cada vez mais valoriza o espetáculo, lembrando um pouco do pão e circo da Antiga Roma. Nem sempre as coisas é totalmente inútil!

  • Diógenes

    O BBB faz sucesso porque encontra-se com as emoções de muitos. Não flutua sem direção.
    abs
    antonio

  • Monique

    Pois é, o BBB diz muito das expectativas cotidianas. Segue empolgando, apesar dos vazios. É o mundo e seus contrapontos.
    abs
    antonio

  • Geovanni Cabral disse:

    Tudo outra vez. Sofás na sala, torcidas nos bares, conversas no ônibus e metrô. a connversa é uma só:quem vai sair?Quem vai ganhar? Quem é belo ou bela? Todos param diante da curiosidade alheia, deixam tudo de lado e se inserem em imagens e seduções. Não consigo compreender esse tipo de programa e seus movimentos, são outros tempos. Não acredito no reality show como é demonstrado. As manobras das emissoras ditam as regras, o povo pensa que escolhe,que fazem parte do jogo. Mas Bial explica,faz rir e chorar. O BBB 12 está no ar!

    Abraço amigo!

  • Geovanni

    O público gosta e mexe com as emoções. Por isso, a Globo não perde tempo.
    abs
    antonio

 

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