Culpa e perdão, história e violência

 

A prática da violência não abandona a história. Ela se sofistica ou mantém ódios tradicionais. É difícil reunir notícias sem que a violência não ganhe lugar de destaque. Inventam-se regras, firmam-se acordos diplomáticos, denunciam-se políticas. Parece que as alternativas de impor limites não conseguem dar conta dos conflitos que se espalham pelo cotidiano. Existiram as grande guerras, mas há repetições de disputas que assustam. A sociedade pensou que as tecnologias e os consumos trariam amenidades e desviaram ressentimentos. Nada disso ocorreu e a confusão dita desesperos.

Continuam na Palestina os massacres inacreditáveis. Morrem crianças, usa-se a opressão do poder de forma continuada. Há gestos de solidariedade que mostram repúdio pela situação. As redes sociais gritam, mostram fotografias, relembram passados, no entanto não se quebram as tensões. O mundo se enche de culpas e perdões. Misturam-se histórias, estimulam-se vinganças. As permanências históricas são mesmo um desafio, sacodem com as teorias de quem insiste  de que as mudanças  nos carregam para calmarias o futuro.

A memória tem sua complexidade, os relatos de pesquisa buscam fontes, as reflexões gerais não se cansam de procurar compreender as contradições. Criamos metodologias, renovamos interpretações, observamos transformações materiais. O que foi vivido não apaga, com facilidade, seus vestígios. Os fantasmas voltam, preparam armadilhas, esquecem as promessas de perdão. As violências chocam, mas persistem. A história é sempre um campo de possibilidades, nem sempre as coletividades multiplicam seus encontros estimados. Há povos que convivem com agressões e desgovernos constantes, sentem-se em abismos.

No mundo famoso da aldeia global, a paz não é comum. As utopias visualizam harmonias que não se apresentam. As expectativas otimistas se desmancham, porque as instituição se fragmentam, não dão respostas, são sufocadas pelas manobras dos privilegiados. As diferença sociais e culturais trazem dúvidas e as aproximações ficam suspensas. Os sentimentos de culpa, os etnocentrismos, as desigualdades materiais não desaparecem. Elas provocam o medo e a perda, embora sirvam para justificar dominações e naturalizá-las.Acumulam-se conquistas, conhecimentos, objetos. O capitalismo firmou, contudo, sua hegemonia e difundiu sua lógica. Ele propõe pedagogias, assanha competições, fantasia méritos.

Mesmo que as rebeldias resistam e desobedeçam às ordens centralizadoras, os mecanismos de controle ativam-se, censuram, intimidam. O pragmatismo abre a porta para o cinismo. Os meios de comunicação são espaços de produção de espetáculos. Paralisam reações, possuem seus patrocinadores, fortalecem. interesses. A violência atormenta muitos que não se seduzem com as cores da banalização. Não há como fazer da história uma linha progressiva, quando o perdão é apenas uma máscara perigosa. O tempo não se livra das exclamações e dos desamparos.

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