Hannah Arendt na estrada curva da história

Quando a perplexidade toma conta do pedaço, nada como procurar diálogos. A solidão consolida fantasmas, deixa ressacas e insônias. Não se deve desperdiçar a sociabilidade, nem sacudir fora a imaginação. O mundo está indo como pode. Muitos esquecem-se das utopias, simulam vivências democráticas, revelam pragmatismos pesados. Está difícil encontrar-se com encantamentos, não se assustar com a interpretações jurídicas, não tremer diante de certas ameaças. Há pessoas que deliram nas falas, agitando suas neuroses. Parece que uma onda nostálgica de autoritarismo acolhe os fanáticos. É que  observo por aqui por perto, porém a inquietude é globalizada. Talvez, o capitalismo se redefina, renove-se  ou se lance no desespero de violências.

Diante das idas e vindas, das jogadas repentinas, não custa conversar. Há leituras que apaixonam e trazem reflexões. Falam de outros tempos, lembram os totalitarismos tão criticados de Stálin, Mussolini, Hitler. Hannah continua sendo uma leitura quase obrigatória para fugir da mesmice e não se afundar nas especulações dos comentadores da Rede Globo. A situação dos jornais também está precária. Reproduzem matérias e gostam da parcialidade. Há que evita cair no discurso da raiva e preserve análise sensatas que ajudam. Hannah, contudo, aprofunda questões que ainda andam pela história. As permanências exigem cuidados, olhares atentos, suspeições.

A modernidade rompeu tradições e redesenhou pensamentos. No entanto, marcou travessias, circula pelas estrada curvas da história. Hannah dialoga com Platão, Aristóteles, Tucídides. Argumenta com erudição singular. A história se conta e se vive como se livrar de seus enigmas ? Não me esqueço também dos sofistas. Eles deveriam ter lugar mais amplo, com seu relativismo provocador. Os conceitos de história e de natureza merecem ser compreendidos. Eles mudam, configuram novas filosofias, desfazem idealismos, destacam o poder da razão. Hannah, no seu artigo de fôlego e beleza incomuns,  O conceito de história- o antigo e o moderno, segue, com seu humanismo.  A expansão da tecnologia estica ilusões, contribui para uma releitura da democracia.

Marx desmancha lógicas da sua época. Coloca a necessidade de fazer a história. Hannah salienta a importância do pensamento  marxiano. Dedica-se a debater sobre a ação humana, as eternidade cantadas em prosa e verso pelas teorias. Critica o utilitarismo, mostra o vazio cultural que ganha espaço, depois das guerras, das opressões, das rivalidades que destruíram valores. Seu texto possui leveza, apesar da complexidade das questões. Hannah não negocia, não abandona sua divagações sobre santo Agostinho, mergulha na secularização da política. Cultiva longas caminhadas por labirintos. Não justifica histerismos, descreve as vestes da incompletude humana. Desconstrói o discurso fascista, tão presente na contemporaneidade, tão sedutor para quem não suporta a multiplicidade.

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