Os controvertidos cenários da política sinuosa
Lula voltou. Não assumiu seu antigo cargo, mas está firme nas negociações. É claro que não estava escondido. Mantinha-se discreto, para não incomodar a gestão de Dilma. Mostrava-se, nas suas palestras, tão presentes nos noticiários. O caso Palocci esquentou, porém, o espaço das disputas. As denúncias tiraram o equilíbrio do atual governo e o clima de tensão se aprofundou. As ameaças são grandes de forçar depoimentos do atingido que não esclarece, como devia, a confusão em que está metido. O núcleo central do poder sente-se intimidado. O bombardeio é constante e a política vive marcada por perplexidades. As questões não garantem que vão, agora, surgir posturas democráticas e compromissos dignos de apoio. Lula articula.
As controvérsias lembram, muitas vezes, bolsa de valores. Fica difícil distinguir quem são, efetivamente, os adversários e o que eles querem com as pressões exercidas. Como não há projetos definidos, a busca por cargos aparece como base da ação de muitos. Faltam análises. A coletividade some diante da força dos interesses de certas bancadas. Os princípios constitucionais se seguram na corda bamba. A votação do Código Florestal denuncia que se abre o jogo para disputas por um mercado valioso. Então, as divisões se evidenciam e os partidos se misturam. Cadê a ética para encaminhar o respeito aos direitos e evitar os descontroles? Qual é o sentido de tantas disputas pessoais e desqualificadas? O cidadão não pode fugir das dúvidas. Fica desconfiado.
O que estão ambicionando os deputados federais? Por que mudam de opinião e contrariam suas direções e suas promessas de campanha? Será que tudo tem mesmo um valor de troca e esvazia as esperanças? Nem todos os políticos negociam seus princípios. Não vamos formular escatologias. No entanto, é impossível não se frustrar com as travessias sinuosas. Anos se passaram e não estamos mais na época da Guerra Fria. Os agenciamentos são outros. Isso faz parte das mudanças históricas visíveis. Existem, ainda, perdas na conjugação dos verbos democráticos que desfazem os olhares otimistas. A velha pergunta: a modernidade é mesmo um projeto histórico relacionado com a ruptura e a igualdade? A razão vem desvendar mistérios e assegurar uma globalização com valores de fraternidade? Não é ingenuidade retomar esses pontos, mas atiçar a memória desperta os sonolentos.
O mundo da diplomacia internacional também gira. Conserva cavernas visitadas, apenas, pelos poderosos. Obama segue suas trajetórias e confabulou bastante com os ingleses, antigos colonizadores dos norte-americanos. O avesso do avesso do avesso do avesso não só um verso de uma bela música de Caetano Veloso. As reviravoltas na economia se anunciam e a Europa lamenta sua situação. Bin Laden desapareceu das páginas dos jornais e os confrontos no Oriente Médio incomodam. As notícias podem não ser transparentes, porém possuem sabores. Ler nas entrelinhas ensina. É um exercício crítico fundamental. As brigas não passam de simulações que balançam o mercado obscuro e avassalador. As ordens e as transgressões não firmam fronteiras. A política teima em esvaziar o significado das palavras e consolidar o fetiche da mercadoria.
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Quando se trata de política, ética e promessas de campanha são termos que deixam de existir após a eleição. Entram em cena a dissimulaçãa, a autopromoção e a utilização sistemática dos recursos em benefício próprio. Na esfera do poder, o tempo tem outro ritmo, os valores são distorcidos e as verdades são efêmeras. E o povo segue à margem.
Gleidson
O desprezo pela ética esvazia a política e desfaz a vontade de mudar.
abs
antonio paulo
O pluripartidarismo é uma estratégia bastante eficaz para distrair as massas com joguetes enquanto os verdadeiros donos do poder orquestram suas falcatruas. É um câncer que está nos matando.
E não é que o Lula voltou, mas sim que ele nunca se foi. O PT não está aí para fazer rodízio democrático, aliás. A cada dia isso se torna mais visível.
Vitor
A política está cercada por jogos de interesse. Limita a liberdade de produzir outras visões de mundo. A mesmice impera.
abs
antonio paulo