Os negócios políticos e as incertezas éticas
Quem não gosta de política fica desligado das intrigas que tumultuam a República. Mas as tensões existem e os cinismos não cessam. Qual é mesmo o compromisso dos partidos e sua organização ética para levantar a democracia? Não tenho respostas. Vejo um pragmatismo crescente que acompanha os balanços da economia. Quem são os aliados do governo central? Que querem seus adversários? Qual é o pacto que segura princípios de solidariedade e ajuda aos desfavorecidos? As teorias se desmancham e as profecias nada dizem do futuro que nos espera. As discordâncias não possuem transparências. Ninguém entende as razões de tantas tragicomédias, nem a manutenção de tantos privilégios. Há um desvio das atenções para festejar discursos ambíguos.
Uma votação recente no Congresso Nacional mostrou as desconfianças profundas. Há trocas de interesses, mudanças de empatias. A perplexidade toma conta das urgências. Dilma flutua, procura firmeza, porém sofre pressões imensas. Se o capitalismo sacode o fogo da exploração e sofistica armadilhas, na política também o obscuro ganha espaço. Eduardo era antes grande amigo de Lula, recebia conselhos, celebrava feitos. Hoje, as declarações são dúbias. Qual caminho que seguirá o governador de Pernambuco? E o PSB está preparado para criar uma base de poder federal?
A imprensa mergulha nas especulações. Os boatos circulam. Amizades são desfeitas. É preciso lembrar que existe uma maioria que não tem acesso ao mínimo de dignidade para manter-se na sociedade. Os labirintos são construídos com esmero. Confundem, atrapalham, marginalizam quem se rebela contra a falta de compromisso público. Não há permanências eternas. Não estamos nos primórdios da modernidade. Transformaram-se sistemas e burocracias. O capitalismo enfrentou crises, superou impasses. A globalização, contudo, não garante sossego, nem os conflitos se diluíram. As suspeitas não inibem o descontrole.
No Brasil, instituem-se fábricas de euforia. Ensaiam, sempre, exaltar que estamos bem. Isso é jogo que incomoda e acumula incertezas. Se a política se torna um negócio intenso, como acreditar nas saídas para compartilhar benefícios? Qual a pedagogia que prevalece se boa parte da população agoniza nos postos de saúde? Ninguém desconhece conquistas. Houve quebra de conservadorismos. O que tira o ânimo é o vaivém dos acordos, a falta de planejamento, a busca do cargo pelo cargo, expandindo o mercado das ambições e dos risos sádicos. Os vestígios das utopias não se foram e eles atiçam desejos e críticas. Afirmar que a perfeição e a felicidade já dominaram o mundo é desconhecer a incompletude.
Os desacertos compõem a sinfonia dissonante da história. No entanto, os limites ajudam a evitar extremos. É sempre válido o esforço para que as práticas sociais movimentem a vontade democrática. As falhas acontecem, o poder devora, o individualismo se redefine. Fechar as possibilidades de abertura para esclarecer os pactos produz tensão. Há quem não compreenda a existência de tantas drogas e de agressões inesperadas. Torcidas organizadas, crime organizado, partidos organizados. O que significa uma arrumação que desconecta e concentra riqueza sem nenhuma cerimônia? As conversas sigilosas enganam. Vivemos simulacros, desperdícios, desamparos. O social se desmantela no ritmo da hipocrisia.
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Olá, Antonio
Boas reflexões. A análise critica do nosso cotidiano é mesmo tão importante, pena que essa nossa sociedade de espetáculos subestime e redirecione a atenção de tantos para coisas banais.
Como você esta? Espero que bem. 🙂
Abraço!
Monike
Bom vê-la por aqui. Pois é, as coisa desandam na política. Fica o individualismo marcante. Espero que esteja tudo bem com você.Não esqueço o nosso bom contato. O mundo precisa de solidariedade.Parece que poucos entendem isso.
abs
antonio paulo