A globalização: ritmos velozes e contrapontos

                                  

Discute-se, com frequência, a crise da modernidade. Tradições se foram, a razão está ameaçada e a presença do desejo toma conta das reflexões. O mundo distanciou-se de Descartes, Hegel, Marx … A industrialização é papo do passado, dizem alguns economistas. É necessário gerar empregos, atrair investimentos, mas o forte é consumir e encher a tela das TVs de produtos. Caprichos nos detalhes deixam animados os que adoram vitrines coloridas. A mídia tem inteligência apurada, não poupa nem as nostalgias. Manipula o tempo, com sutileza de fazer inveja a qualquer contador de história. Tudo isso acontece com muitas impaciências.

Ninguém domina as certezas. A globalização se dá, numa sociedade que cresce, assustadoramente, com mercados sedutores e estratégias de negociações pensadas com exaustão. A modernidade parece, para alguns, um passado sem eco, um lixão de descartáveis, onde pensamentos, antes radicais, se perderam por inércia. Muitas transformações pedem teorias reformuladas, negações de hábitos seculares, universidades voltadas para a técnica e a produção. O século XX já convivia com condenações à modernidade. Criticava-se o perigo das sociedades de massas, ao mesmo tempo que  se exaltavam as novidades tecnológicas e os poderes da internet.

Fica difícil aprisionar complexas  interrogações. Na época das grandes navegações, a Europa encontrou-se com outras culturas. Aprendeu a montar estratégias de governo, mais amplas, e acumulou riquezas variadas. Depois de derrubar as relações feudais, lançou discursos revolucionários de igualdade e liberdade. Nas colônias, a escravidão, ainda, sobrevivia, ajudando a expandir  lucros e ambições. A modernidade não eliminou experiências culturais, mais antigas, de forma absoluta. Soube dialogar com elas, misturar e seguir adiante. As trocas facilitam a compreensão das diferenças. Não há como pensar em mundo homogêneo e linear. A globalização não se faz no vazio. Há, contudo, controvérsias. As relações internacionais inquietam antigos senhores. Movem confrontos.

A China e a Índia exigem atenção. Possuem populações numerosas e entram na competição capitalista, com habilidade. Os Estados Unidos e a Europa abrem os olhos. Prever destinos é desafio da cultura, nem sempre bem-sucedido. Fala-se na pós-modernidade. O tema, em foco, não é o da decadência. Como é possível construir outra sociedade, sem abandonar os vestígios do passado e as conquistas da globalização? As lutas contra as mudanças não se desfizeram. Há resistências intelectuais e afetivas. A história não é resultado de desenvolvimentos contínuos. Os descompassos não deixam de existir. As culturas se conhecem, mais de perto, no entanto há rejeições e conflitos violentos.

A socialização dos benifícios denuncia falhas e frustrações. O monopólio se apresenta e não nega o fogo das armas. Veja a confusão política no Oriente e as manobras grevistas no Brasil contemporâneo. A explosão demográfica das cidades cria transtornos, aparentemente, insuperáveis. Se a euforia contagia os amigos do progresso, o que lembra o século XIX, ela não se consolida entre os críticos que mostram qualidades de vida ameaçadas. Não adiantam jogos de espertezas e audácias científicas. O chamado mínimo merece consideração. A fome não desapareceu, as drogas fazem fortunas, a moda exibe ilusões. A globalização não é o fim, nem o sentido da história.

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2 Comments »

 
  • Rafael Cesar disse:

    a globalização é um fenomeno mundial fantasmagórico, as maquinas trazem à tona o medo da submissao humana perante elas que tantos filmes de ficçao cientifica mostram surreais e que entretanto são provads dia-a-dia na internet e nos meios midiaticos de comunicação. a globalização não é um fenomeno unico do sec XX o choque cultural e o anseio por imposiçao e aceitaçao das culturas dominantes comprovam o desejo neoliberalista das elites dominantes e suprimindo os estados e oprimindo as populações. acredito eu que o advento da internet e das culturas de massas têm seus pontos positivos perante a constituiçao das identidades individuais, porém a subutilização destas forçada pelas midias alienantes instiga o consumo e a reificação.

  • Rafael

    Os meio de comunicação ajudam na dominação. Tudo se estreita e acena para as maravilhas da tecnologia.
    abs
    antonio paulo

 

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